quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

BOLÍVIA

Nove de janeiro de 2011. Do Chile para a Bolívia. Do que é quase um país de primeiro mundo para o terceiro mundo em toda a sua expressão.
Estávamos muito cansados da viagem do dia anterior. E tivemos que sair logo cedo do hotel. Preparar tudo, tomar café, levar as motos e a camionete para o estacionamento da agência de turismo. Tudo para estarmos às oito e meia novamente na alfândega. Pé no saco de chuteira com cravos altos. Mas fazer o quê. Como dizia o filósofo Vicente Matheus, “quem sai na chuva é para se queimar”.
Para encurtar, fizemos a alfândega e subimos de volta aquela descida – agora subida – da chegada de San Pedro. Depois de cinqüenta km, mais ou menos, perto dos vulcões – vide o post anterior – há uma saída para a Bolívia (que eu não tinha visto). Ali pegamos uma estrada de terra e fomos até a fronteira do Chile com a Bolívia.
Feitos os trâmites, pegamos as Toyotas que nos esperavam para o passeio contratado: um tour de três noites e quatro dias por aquilo que a Bolívia tem de mais maravilhoso: as belezas do altiplano. Aventura pura. Gostaria muito de fazer de moto, mas sei das minhas enormes limitações como piloto. Simplesmente não dá.
Foi o passeio mais maravilhoso e mais desgastante da minha vida.
Conversamos a respeito e concluímos: para indicar o passeio para algum amigo é necessário muito cuidado. É preciso explicar bem o que se passará – e quase que faltamente passará.
O Edgardo – o contato da agência Atacama Mística com o qual a Ju contratou o passeio – explicou tudo. Se fosse no Brasil, ele teria agido em total conformidade com o Código de Defesa do Consumidor. No briefing que tivemos na véspera do embarque ele explicitamente falou que o passeio seria um dos mais radicais e que todos ficariam muito cansados. Também falou da altitude e dos problemas que poderiam decorrer dela. Explicou especificamente que o mal da altitude – a Puna – não escolhia sexo, idade, forma física etc. Dava em uns – com maior ou menor intensidade – e não em outros. E que devíamos nos preparar – o que significava não beber, nem comer carne vermelha ou leite, dentre outras restrições. Mas não adiantou, como se verá mais a frente.
O passeio começou com uma série de lagunas, no meio das montanhas, com o deserto de pedra ao redor. Lagunas coloridas, cheias de flamingos e bórax (elemento químico esbranquiçado, usado para a fabricação de vidros, se eu não me engano). Na sequência, uma piscina natural de águas calientes – 45° segundo os guias; eu achei que estava mais para uns trinta e oito –, mais montanhas, altitude, vulcões, formações rochosas, neve (é, chegou até a nevar!). Tudo em trilhas ora de areia, ora cheias de rochas que eram contornadas habilidosamente pelos motoristas – chofeurs aqui, vai saber porquê – dos jipões. Tudo a mais de quatro mil e quinhentos metros de altitude. O ponto culminante foi cinco mil e cem metros!
Depois de um dia inteiro de passeios por paisagens literalmente alucionantes – eu nem me lembro mais de tudo o que vimos no primeiro dia –, paramos no hotel. Hotel, não, alojamento. Quartos com camas coletivas – cinco para umas trinta pessoas de todo lugar do mundo – e com duas privadas e um chuveiro frio para todos.
Aí a Puna pegou. Pegou eu e o Otávio, que já estava meio adoentado, apanhando de uma gripe com tosse que não largou do pé dele nem um minuto.
A Puna é o mal da altitude. Eu tive uma dor de cabeça que fazia décadas que não sentia.
Na adolescência, costumava ter umas enxaquecas que vinham do nada e quase me arrebentavam a cabeça. A dor de cabeça da Puna foi pior. Queria morrer.
Tomei um chá feito pelo senhor responsável pelo alojamento. Também mandei para dentro duas nelsaldinas. Passadas algumas horas a coisa melhorou, mas eu fiquei deitado quietinho bem umas quatro horas. O Otávio não. Ele deitou e só levantou na manhã seguinte.
Por causa da dor de cabeça alucinante, não fui ver a Laguna Colorada – em cores vermelhas e que tem a maior concentração de flamingos da região. Milhares deles ficam ali ciscando. Tudo rodeado das enormes montanhas dos Andes. Quem viu de perto, amou. Eu acabei vendo de passagem, no dia seguinte e achei mesmo fantástico.
No segundo dia, saímos logo cedo. Mais ou menos sete e meia da manhã. Temperatura bem amena: uns oito ou dez graus. Amena? Explico: de noite, a temperatura cai para menos quinze. É isso mesmo: menos quinze graus abaixo de zero. No alojamento, ela é de uns dez graus, mas os cobertores eram bem quentinhos e a cama, juro, foi a melhor da viagem. Dormi bem umas catorze horas – contando as da recuperação da Puna.
Passamos por desertos de todos os tipos: de pedras, areia, com e sem vegetação. Paramos em diversos locais e um dos mais interessantes era o das formações rochosas. Há uma árvore de pedra de uns sete metros de altura. Tudo surreal.
O segundo alojamento foi um hotel de sal, já beirando o Salar. De sal porque todo feito de tijolos de sal. As camas, as mesas, as paredes, o chão, tudo de sal. E tinha banho quente, ao custo de dez bolivianos, ou mil pesos chilenos. Ou um dólar e meio, mais ou menos. Fica uma menina chola na porta controlando o tempo que é de cinco minutos.
Interessante é a descarga. Há uma caixa de água na porta dos dois banheiros e umas garrafas de cinco litros de água. Quem usa, enche a garrafa e joga no vaso. Essa é a descarga. Mas não foi a pior. Longe disso. Abaixo há mais.
O terceiro dia foi o do passeio no Salar de Uyumi. Que eu conto com mais vagar no próximo post. Fotos com a Ju. Agora vou dormir, porque amanhã cedinho é nova estrada.
Abraço a todos.
P.S. Alexandre: essa é a dica. Faça o passeio, mas acompanhado de um guia, senão a barra pesa.
Abreijos. Toni.

7 comentários:

  1. Estamos acompanhando e comentando muito sobre a viagem de vcs. Muito interessante, e instrutivo. Um abração a todos, principalmente ao Antonio Mário e à Ju.
    Vai ser assunto até da sessão da 12Camara (o Antonio sabe o que é isso).
    Jacob

    ResponderExcluir
  2. Putz . Super radical . Estamos acompanhado e curtindo . Beijeral

    ResponderExcluir
  3. To amando acompanhar a aventura! Incrível a riqueza de detalhes nos posts do Antonio Mario! To super curiosa pra saber do passeio no Salar de Uyumi! Bom restinho de viagem para todos! Beijos, Fernanda.

    ResponderExcluir
  4. Amigos: continuo acompanhando com grande interesse essa verdadeira epopéia (erspecialmente essa aventura boliviana). E cada vez me surpreendo mais com a veia poética do Antonio Mario. Espero que, quando formos rodar na Rota 66, ele também se anime a fazer o nosso blog.
    Abração.
    Nery

    ResponderExcluir
  5. Oiee Turminha . Tenho recebido tb os emails do Otavio. Falar o que? IMPRESSIONANTE . Radical é pouco hein ? Acompanhamos dia a dia . Que Aventura legal ! Abreijos a todos!

    ResponderExcluir
  6. Caras !! Que Aventura hein ? Essa do Salar é PUNK mesmo. Recebi fotos do Otavio e fiquei impressionado com a " boa estrutura" do local. Com todo cansaço e dor de cabeça vcs ainda tem pique de postar esses relatos detalhados e realmente instrutivos ! Maravilha . Abreijos a todos . Continuamos acompanhando dia a dia !

    ResponderExcluir
  7. OXI!!! Diria que dps dessa descrição eu ja PASSEI da idade pra tal passeio... PARABENS a vcs, pelas fotos que a Ju colocou na FB , valeu a pena. BEIJAO e uma OTIMA viagema vcs!!!!
    Ro Frascareli

    ResponderExcluir