sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

DÉCIMO PRIMEIRO TRECHO - ASUNCION - MARINGÁ




Dezenove de janeiro de 2011. De volta para o Brasil! De Asuncion – Paraguay a... Não sabíamos até aonde iríamos. Porque não sabíamos quanto tempo iria demorar a travessia da Ponte da Amizade – divisa entre Brasil e Paraguay, na Foz do Iguaçu. Ciudad Del Este: o conhecido paraíso dos sacoleiros.
A intenção era tocar até Maringá. E deu certo. Mas vamos por partes.
Saímos de Asuncion às 7:25 hs. da manhã, com temperatura agradável de 26° Celsius.
Muito movimento na cidade, como era de se esperar, em se tratando de uma capital de país. Não tivemos maiores dificuldades, pois o GPS do Otávio indicou corretamente a saída. Só uma ou outra parada, para esperar quem ficou para trás no sinal.
Disseram para a gente que a estrada entre Asuncion e Ciudad Del Este estava quase toda duplicada. O motorista do “transfer” que havia nos levado até o centro da cidade disse que eram uns duzentos km de pista dupla. O amigo do Otávio disse que eram uns cento e vinte, sendo parte na saída de Asuncion e parte na chegada à Ciudade de Este.
Nem um nem outro. No máximo, uns setenta km de pista dupla.
Na saída de Asuncion, desde o hotel, foram exatos trinta e três km de pista dupla. Pista dupla com todo o tipo de trânsito local – até carroça. Pista cheia de semáforos, de pontos de cruzamento e coalhada de policiais. Especificamente sobre a polícia, eu estava meio preocupado, por conta de um relato que lemos na Internet. O resumo do resumo é que qualquer coisa seria pretexto para os policiais tentarem tirar “um troco” dos brasileños.
Então, a viagem não rendeu.
A primeira parada ocorreu depois de cento e cinqüenta e três km rodados, com a temperatura na casa dos 32° Celsius, às 10:10 hs. Quase três horas de estrada, com média de pouco mais de cinqüenta km por hora.
Isso cansa. Como já disse, não é a quilometragem, mas o tempo sobre a moto que mata. Na Argentina, com esse tempo, fácil, fácil, teríamos percorrido o dobro da distância.
Contei, mais ou menos, uns quinze pontos com policiais – dentro e fora das cidades. Mas ninguém nos parou.
E a viagem foi isso. Oitentinha por hora, muita dificuldade para fazer as ultrapassagens e algum calor.
De bom, o asfalto era razoável e a estrada regularmente sinalizada.
Porque inevitável, depois de quase cinco horas rodando, acabamos por nos aproximar de Ciudad Del Este. Paramos no acostamento, no recomeço da pista dupla, a fim de que o Otávio telefonasse para o amigo dele que o esperava para o almoço. Tínhamos rodado 293 km e era aproximadamente 12:10 h. A temperatura estava na casa dos 33° Celsius. No Brasil, uma hora mais.
O Otávio conseguiu contatar o amigo. Ali mesmo nos despedimos. Eu e a Ju saímos e logo acabamos sendo alcançados por eles. É que paramos no último pedágio, o único que as motos pagam – desembolsamos 4000 Guaranis, pouco menos de dois reais. O Otávio nem percebeu e passou pelo lado. Ninguém pareceu se importar com isso. Vamos ver se a multa chega até Londrina...
Fidel, o amigo do Otávio, veio buscá-lo na estrada, acompanhado da esposa. O simpático casal estava em uma Mercedes. De dentro do carro, tiraram fotos e ainda acenaram para a gente, insistindo para que fossemos almoçar na casa deles. Não dava, porque eu tinha mesmo que chegar a Campinas antes do que chegaria se parasse em Ciudad Del Este para comer. Fica para a próxima.
Tocamos juntos, as motos e a caminhonete do Zé, meu irmão, até quase chegarmos à avenida que leva à Ponte da Amizade.
Ali nos separamos definitivamente.
Ali, a coisa ficou engraçada.
Depois de uma rotatória, já dentro de Ciudad Del Este, havia uma avenida com uma imensa fila dupla de carros e ônibus. O caminho para a ponte.
Entre as filas de veículos, passavam, incessantes, motos de serviço de táxi. Tais motos levam tudo, menos passageiros. Pelo menos, as que eu vi: menos de dez por cento estavam com garupa. Acho que fazem o transporte de muambas entre o Paraguay e o Brasil.
Não tive dúvidas. Mesmo com o meu “trambolho”, também peguei o caminho das motos e fui em frente – não com a agilidade das motinhas, evidentemente. Acho que me sai bem: só atingi um único retrovisor de um veículo parado. Anoto que não quebrou; só virou para frente. Felizmente, o dono não estava por perto.
Acabei saindo, uns dois km adiante, na alfândega do Paraguay, antes da ponte.
No Paraguay, eram 12:50 hs. Parei em frente a um prédio envidraçado (ao que eu me lembre), existente antes de se iniciar uma grande parte coberta da avenida – uma cobertura do tipo de uma quadra de basquete.
Fiz contato visual com uma pessoa que parecia ser funcionário do escritório e, de longe, perguntei para ele se era ali que eu pegaria o carimbo de saída do Paraguay. Ele confirmou, eu estacionei a moto e a Ju desceu. Fiquei do lado de fora mesmo, cuidando da bagagem.
Nem precisei descer. Em uns dez minutos, a Ju retornou com todos os carimbos e com a informação de que ninguém carimba nada na saída do Paraguay...
Saímos, passamos pela grande cobertura, cheia de veículos de todos os tipos, todos rumando para a ponte. Uma zona total.
Continuei a minha aventura motoboy ao ingressar na ponte.
Seguinte: havia uma fila de veículos indo do Paraguay para o Brasil e duas no sentido inverso. Entre as filas, o espaço para as motos-táxis trafegarem. Só que havia espaço – apertado – para uma moto e elas transitavam pelos dois sentidos, indo e vindo incessantemente.
Mais uma vez, não consigo pensar em outras palavras para descrever a situação: uma zona total!
Com os meus mais de quatrocentos quilos em duas rodas, fomos seguindo do jeito que dava. Inclusive, com alguns xingamentos de motoqueiros que não se conformavam que o trambolho ocupasse toda a “avenida particular” das motinhas.
Brasil! Meu Brasil brasileiro! Cruzamos, incólumes, a ponte. A Ju disse que durante toda a travessia da ponte, só ficou esperando o momento em que nós cairíamos naquele mar de carros, micrônibus e motocicletas.
Do lado do Brasil, havia uma baia para motos, demarcada com uma mureta de cimento. Por ali, eu não me arrisquei. Não dava para passar no espaço exíguo destinado aos veículos de duas rodas.
Fomos mesmo pelo lugar dos carros. E passamos, sem ninguém sequer nos dar boa tarde. Nada foi pedido, nem visto, nem nada. Se fosse um contrabandista de motocicleta, tinha entrado no Brasil com uma BMW GS 1200 Adventure sem qualquer problema.
O problema, em verdade, é a tal da Ponte da Amizade. Todas as autoridades constituídas do Brasil sabem que ali é o ponto de entrada de contrabando de porcariada no país. E nada é feito.
Se o Brasil quisesse simplesmente acabar com Ciudad Del Este – e com boa parte do Produto Interno Bruto do Paraguay – bastava fechar a ponte. Ou, alternativamente, bastava transformar Foz do Iguaçu em uma Zona Franca, no estilo da de Manaus. Acho que não se faz isso por uma questão de geopolítica. Com a preservação do comércio muambeiro de Ciudad Del Este, mantém-se boa parte da economia paraguaia e, por extensão, a influência do Brasil com relação ao país satélite.
Pode ser que eu esteja falando besteira, mas acho que só isso justifica o queijo suíço que é a Ponte da Amizade. Melhor seria chamá-la de Ponte da Tolerância...
De Asuncion até a ponte foram 320 km rodados. Na chegada, a temperatura estava alta: 34,5° Celsius. Mas nada de mais, perto dos 42° Celsius do Chaco.
Logo que saímos de Foz, paramos num posto quase na entrada da cidade: o Posto Três Fronteiras. Paramos para comer algo e para abastecer não a moto, mas os nossos corpos de água gelada.
Hidratados e alimentados, dali saímos às 14:50hs – agora já no horário do Brasil. Tocamos só um pouquinho e entramos na cidade de Santa Terezinha de Itaipu para sacar algum dinheiro. Tínhamos poucos reais e havia muitos pedágios pela frente.
A cidade é muito arrumadinha, arborizada e bem organizada, do pouquíssimo que deu para ver. Ela fica às margens da represa de Itaipu – por isso agregou o nome da represa ao da santa.
Dali, tocamos até uns oitenta km depois de Cascavel. Parada às 17:30hs, com temperatura de 32,5 º Celsius, no Posto Ubiratã, da cidade do mesmo nome. Quinhentos e trinta e cinco km percorridos.
No Brasil, a velocidade média aumentou bastante – apesar da pista simples de boa parte do trecho Foz do Iguaçu – Cascavel. Aliás, é inaceitável que duas cidades com tamanha expressão econômica ainda não sejam ligadas por pista dupla – e isso com a concessionária mandando brasa nos pedágios...
No posto, tive a oportunidade de bater um papo com dois simpáticos policiais federais: um rapaz e uma moça. Eles me contaram que dois dias antes estiveram em Foz, onde houve um bloqueio policial referente ao trânsito das motos-táxis. Imagino o caos que se instalou na região da ponte...
Saímos às seis da tarde. A distância até Maringá era de mais ou menos 180 km. Optamos, então, definitivamente por irmos até lá.
Tocada tranqüila, mas, ao longe, a chuva começou a armar. A armar para valer! Foi inevitável a lembrança a respeito da tempestade de Formosa, na Argentina. Às 19:25 hs. – 683 km rodados –, paramos a moto no acostamento de uma cidade que é atravessada pela rodovia. Vestimos os impermeáveis e cobri a mochila de tanque.
Tudo pronto para enfrentarmos a tempestade, mas ela não nos pegou. Pura sorte. A chuvarada estava indo na mesma direção, mas já mais adiantada.
Entramos em Maringá por volta de 20:00 hs. Paramos para perguntar qual a direção para o Parque Ingá – nas proximidades do qual estava o Hotel Ibis, onde tencionávamos nos hospedar. O senhor que nos informou disse que meia hora antes havia caído uma tempestade forte sobre a cidade. Realmente, a sorte contribuiu!
Seguimos a direção indicada e logo estávamos em frente à Catedral de Maringá – a Catedral Basílica Menor da Nossa Senhora da Glória. Ali, às 8:10 hs., setecentos e vinte e oito km rodados, paramos para agradecer a viagem bem sucedida – quase seis mil km rodados, sem nenhum transtorno real, digno de nota.
A catedral, em si, é um monumento impressionante. Ela é inteiramente de concreto e tem a forma de um cone. Um cone de mais de cem metros de altura que domina toda a paisagem, o topo encimado pela cruz. Ao redor, um enorme gramado, muito bem cuidado. Uma beleza.
Também Maringá é uma beleza de cidade. A parte central é muito bem cuidada e otimamente sinalizada. Cheia de avenidas largas, limpas, guarnecidas por parques e jardins. Ficamos extremamente bem impressionados.
Não havia vaga no hotel. Nem em outro, nas proximidades. Mas o gentil atendente japonês do Hotel Bristol – cujo nome infelizmente não anotamos – foi muito prestativo e ligou para um hotel quase em frente à catedral e NBA esquina do prédio da Prefeitura – da rede Elo. Felizmente, lá havia vaga: a última!
Há uma série de eventos acontecendo na cidade. O hotel Elo estava tomado por lutadores de jiu-jitsu da Austrália que vieram para cá fazer um intercâmbio de dez dias. Tive a oportunidade de bater um papo com alguns deles e é curioso como os caras são gentis – o que não combina com a aparência de brutamontes que têm.
O apartamento do hotel, com uma enorme varanda, tem uma vista espetacular da catedral. Depois de mais de vinte mil km rodados, finalmente me utilizei do tripé da máquina fotográfica (ele tinha ido passear em Ushuaia, porque nós nos esquecemos do dispositivo de fixação da máquina...). Tirei umas fotos noturnas da catedral, da cidade, da lua, enfim, de tudo o que deu. Algumas serão postadas aqui.
Depois de um bom banho – uma ducha fortíssima; parecia ducha escocesa, de massagem –, saímos para jantar.
Com inveja do Otávio e do Zé que foram esperados com um banquete árabe para o almoço, resolvi ir atrás da comida libanesa. Em verdade, já conhecia um restaurante libanês da cidade e o procurei por pura nostalgia.
Explico.
Há uns trinta anos, mais ou menos, fiz uma audiência em Maringá. Audiência pesada, porque o caso era grave. Tanto eu como o advogado da parte contrária, defendemos os nossos clientes com unha e dentes, mas com lealdade e respeito recíprocos.
Quando a audiência acabou, já início de noite, o colega me convidou para ir jantar em um restaurante libanês que era famoso pela boa comida.
Foi justamente atrás desse restaurante que eu fui. E o encontrei, nas proximidades do hotel.
Valeu a pena. A comida estava deliciosa. Comi as melhores esfihas da minha vida. Leves, com uma massa extremamente fina. Tudo o mais que comemos também estava delicioso.
O restaurante é o Monte Líbano. Está situado a umas duas ou três quadras da catedral, perto do Parque Ingá. O endereço é o seguinte: Avenida Anchieta 1055 – tel. (44) 3227-2047.
O próximo post é do último trecho: Maringá – Campinas.
Abraços e beijos a todos. Postagem das fotos assim que der.
Toni.

Nenhum comentário:

Postar um comentário