quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

SÉTIMO TRECHO - PURMAMARCA - SAN PEDRO DE ATACAMA







Oito de janeiro de 2011. Atrasado, evidentemente, porque hoje já é 12 de janeiro de 2011. Depois de Argentina total, agora é Chile pra valer!
O sétimo trecho era para ser tranqüilo. Um passeio. Foi um passeio lindo, maravilhoso. Mas não foi tranqüilo. Foi exaustivo.
Saímos de Purmamarca às 9:10h. Temperatura 19° Celsius à sombra. Temperatura agradável, mas vai esfriar, mais à frente.
Logo pegamos a estrada. Começou a subida. Subida espetacular! No meio dos Andes. Cheia de montanhas, uma mais linda do que a outra. Aliás, em Purmamarca, há uma montanha toda colorida que ficava bem atrás do nosso hotel. O Cierro de Sete Colores. Pela manhã, com o sol batendo, apareceram todas as sete cores e mais algumas. Tons de verde, vermelho, amarelo. Realmente muito bonito.
Na subida, foi esfriando. A temperatura baixou para 13° Celsius na primeira parada: o marco de 4.170 metros acima do nível do mar. Paramos para as fotos de registro e para esticar as pernas. 34 km rodados. Dez da manhã. Ou seja, cinqüenta minutos para só um pouquinho de estrada.
É que a estrada tinha muuuiiiiitaaaas curvas em aclive. Curvas para todos os lados. Curvas que se faz em primeira marcha. Curvas para subir de 3000 para mais de 4000 metros. Curvas do tipo da estrada do Paso do Cristo Redentor, entre Santiago e Mendoza.
Votamos. Ganhou o Cristo em número de curvas, mas eu acho que por pouco, porque as daqui eram muitas mesmo.
Continuamos. As curvas diminuíram. As montanhas não. E o deserto começou a dar as caras. Muito pedregoso e com uma vegetação típica rasteira. Uns tufos verdes.
Como a Ju observou, não dá para imaginar que o deserto é um lugar tão rico de paisagens. Chega a ser emocionante. Perdemos o fôlego duas vezes. Pela altitude e pela beleza do entorno.
A segunda parada foi em um salar, depois de 66 km rodados. Onze e trinta da manhã. A temperatura subiu para 17° Celsius.
Eu nada sabia sobre salares até uns três anos atrás. Foi a Ju que me falou a respeito, ao comentar sobre o Salar de Uyuni. Não imaginava que havia desertos de sal nos Andes – justamente o que são os salares.
Tudo aqui, há milhares de anos, foi oceano. Depois, os Andes subiram e represaram a água do mar que acabou por secar. Secou a água, mas não o sal.
Isso são os salares. Enormes áreas cobertas de sal. Brancura para todo lado. Impressionante.
Bom, neste salarzinho do caminho entre a Argentina e o Chile a gente já babou. Mas não era nada perto de Uyuni. Sobre o qual, depois eu conto.
Fizemos fotos, evidentemente. A Ju depois faz a postagem. Ou não. Ela está cuidando das imagens. E como são tantas, vai depender da boa escolha dela. E da lerdeza/esperteza da Internet local.
Prossigo.
A terceira parada foi em Susques, uma cidadezinha no alto da montanha – 3.700 mts. –, depois de 135 km rodados, às 11:50hs. Temperatura: 21° Celsius. Ainda Argentina.
Na nova subida da montanha, mais lindas paisagens dos Andes. Difícil até de explicar. E apareceram as primeiras lhamas na pista.
Paramos em um hotel/restaurante. Já com medo da altitude pegar. E não pegou. Mas, mais para frente, ela vai pegar...
Almuerzo, com direito à conversa com os responsáveis pelo hotel – um argentino e uma uruguaia – Maria, que falava perfeitamente o português. Eles passaram a cuidar do hotel faz uns três meses. Antes moravam... em São Paulo! Eita mundo globalizado!
Saída às 13:10hs. E a próxima parada foi no Paso de Jama – nome da fronteira argentina. Duzentos e quarenta e sete km rodados desde Purmamarca.
A aduana é sempre um saco. E a aduana argentina não é exceção. Ao contrário, é afirmação da regra. Gastamos mais ou menos uma hora para preenchermos um monte de formulários, pegarmos outro monte de carimbos, papéis, devolvermos papéis para o mesmo guardinha com cara de otoridade que nos entregou a papelada.
É sempre importante o cuidado com a papelada. Qualquer papel não preenchido, qualquer carimbo errado, pode atrapalhar muito a viagem. Então, preste atenção, que vale a pena!
Na alfândega, um monte de gente. Altitude local de mais de quatro mil metros. Uma garota desmaiou, justamente por causa da altitude. Eu me senti um pouco cansado, um pouco estranho. A Amanda – minha sobrinha – reclamou de dor de cabeça. Nada muito forte. A gente se sente esquisito. Não dá para explicar. Mas mais para frente vai dar...
Tudo resolvido, retornamos à estrada. Já no Chile. O entorno foi ficando cada vez com mais cara de deserto. E começou a esfriar.
Saímos da aduana às 15:20hs. Quinta parada. Na estrada mesmo, para vestirmos os forros, porque esfriou para valer.
Estava novamente 13° Celsius no mostrador da moto. E ventava muito. A sensação térmica era abaixo dos oito graus. Muito frio, como disseram uns motociclistas brasileiros que encontramos no posto próximo à aduana.
Abro parêntesis. Há um posto de gasolina vizinho à aduana. Dava para abastecer sem qualquer dificuldade, o que não fizemos porque trouxemos vinte litros de gasolina num galão que veio na camionete do Zé, meu irmão.
Já havia lido a respeito do tal posto que, ao que consta, é de recente construção. Parece que normalmente há combustível lá sem grandes filas. É importante saber disso, porque dependendo da autonomia da moto, o abastecimento na fronteira é absolutamente necessário. Como já escrevi em post anterior, na região de Purmamarca, no período de férias, campeia o desabastecimento. Ficamos em Tilcara mais de uma hora na fila para encher os tanques das motos. Motos com autonomia menor podem ter dificuldades sérias.
Ainda dentro do parêntesis, no Chile não se pode transportar combustível. Mas como a aduana chilena é só lá embaixo – em San Pedro de Atacama, cento e sessenta km de distância da aduana argentina –, caso haja necessidade, o motociclista pode levar mais alguns litros de reserva em galões (alguns levam até em garrafas de Coca-cola...) e reencher o tanque, antes de passar pelos procedimentos aduaneiros. Antes, senão a gasolina e o galão são apreendidos.
Voltando à Ruta, depois de cruzarmos muito deserto com montanhas lindas e coloridas – uma diferente da outra – na altitude, começamos a descer para San Pedro de Atacama. Descida intermitente, mais para reta do que para curva, de quarenta quilômetros! Baixamos de mais de quatro mil para três mil e quatrocentos, que é a altitude aproximada de San Pedro.
Nova aduana. Não se esqueçam. Depois da descidona, a gente chega em San Pedro e – acho – pode entrar direto na cidade, sem passar pelo controle de fronteira. Mas quem fizer isso vai ter um monte de problemas – para reentrar na Argentina, por exemplo.
A aduana de San Pedro fica logo à direita, no final do retão em declive pelo qual viemos.
Foi menos problemático do que parecia. Controle de fronteira e de bagagem. Coisa de meia hora.
Dica importantíssima: há um controle muito severo no Chile – em qualquer lugar – sobre a entrada de alimentos in natura. Não é possível trazer para o Chile uma simples maçã. Se você esquecer a maçã que comprou no posto na Argentina dentro da mochila e o controle sanitário pegar – e ele vai pegar –, prepare-se para pagar uma multa pesada! Então, não se esqueça: nada de frutas ou de qualquer outra coisa de comer que não seja industrializada.
Em San Pedro, a temperatura aumentou para 31° Celsius. É complicado lidar com variação de temperatura desse porte: de 13 para 31. Então, vindo de moto, esteja preparado.
San Pedro é uma titica de tamanho – 4.500 habitantes; mais uns mil e quinhentos turistas –, mas é super complicado andar na cidade, porque as ruas não batem. Se você errar uma, vai dar uma volta imensa. E outra coisa, o posto de gasolina – estacion de abastecimiento – é bem difícil de chegar. Pergunte bem. Ah! O posto aceita cartão de crédito, o que não está acontecendo, em geral, na Argentina.
Por causa dessa dificuldade, rodamos um bocado até encontrarmos o hotel. Acabamos por localizá-lo às sete da noite – noite é modo de dizer, porque o sol ainda estava firme no céu e caliente na terra. A temperatura, forte, era de 31° Celsius.
Rodamos um total de 413 km. Achei que seria um passeio, mas como escrevi acima não foi. Foi muito desgastante, pelos trâmites aduaneiros, pela diferença de temperatura, pela altitude e pela paisagem que faz parar mais do que era aceitável. Assim, quando vier para cá, principalmente saindo de mais longe (Salta, Jujuy) tenha em conta essas variáveis para programar a sua viagem. Não deve ser nada agradável passar pelo topo da cordilheira já pela noite, quando a temperatura cai muito.
Sobre a temperatura, se de dia em San Pedro ela gira pela casa dos trinta, à noite baixa para uns treze. É a velha história de que o deserto é quente de dia e frio à noite. Mas nada assustador.
Isso no verão, porque o inverno é bravo à noite por aqui. À noite baixa para menos sete. De dia é ameno: vinte graus, mesmo no inverno.
A eletricidade em San Pedro varia muito. Como aqui é deserto e tudo é limitado – inclusive a eletricidade – e à noite todos ligam as luzes, pode haver muita variação. Como está acontecendo exatamente agora no hotel. A internet se foi e a luz está “flaquejando”. Um pisca-pisca.
A cidade em si parece um reduto “hippie” no Século Vinte e Um. Muitos mochileiros – quase todos de havaianas e apelidados, por nós, de pés-sujos – e um monte de barzinhos e restaurantes com cara de Vila Madalena. Mas é bonitinho. Tem uma rua “peatonal” que concentra os bares, restaurantes e tiendas de artesanias e produtos de prata e cobre. Na paralela, há uma bela praça. E em todos os lados, há agências de turismo, vendendo passeios locais e para a Bolívia.
Aqui é mais caro do que na Argentina. Mas não muito mais.
Jantamos em um bom restaurante (“Delícias de Carmen”) que aceitava dólares, por uma boa taxa de câmbio. Comemos bem – comida bem feita e atendimento simpático – e tudo ficou, mais ou menos, dez dólares por pessoa. Dezoito reais. Nada mal para um jantar em uma cidade turística que todos dizem que é cara.
Acabou de acabar a energia elétrica. Estou usando a bateria do computador. Todos os insetos da região – uns micropernilongos – foram atraídos pela luz da tela.
A luz sempre acaba aqui. E a água também. Problemas de se ter uma cidade no meio do deserto. Cidade de nove mil anos, mais ou menos. Como disse o Otávio, com todo esse tempo e não aprendeu ainda a lidar com os problemas básicos. Crítica devida ao cansaço.
Ah! O hotel! Os hotéis razoáveis aqui são caros. Cerca de duzentos dólares. Há hostais, mais baratos, mas sem as mínimas condições. Principalmente, porque sofrem com a falta de água, problema do qual o nosso hotel não padece.
Fomos muito bem atendidos. O quarto básico é razoável – o nosso estava meio caído, mas o do Otávio e da Inha pareceu mais bem cuidado e muito mais charmoso –, mas o superior – no qual ficamos no segundo dia – é show de bola. Tem até varanda com vista para os dois vulcões que vigiam permanentemente a cidade. O Licancabur e o vizinho Juriques que tem o topo cortado – a palavra em língua indígena (não sei qual; perdão pela ignorância) significa exatamente isso: com a cabeça cortada.
O hotel se chama Tulor. O endereço é Rua Domingo Atienza 523. Telefones 56 55 851027 e 851063. Tem tudo na Internet, por onde fizemos a reserva. Indicação preciosa – mais uma – do Alexandre, nosso anjo da guarda. Salve, meu chapa, pelas dicas sempre excelentes. No próximo post, ousarei dar uma dica para você.
Ainda bem cansados, saímos no dia seguinte, oito da manhã, em uma excursão para a Bolívia por três noites, passando pelo Salar de Uyuni. A parte hard da viagem. Que eu conto no próximo post. Atenção, nossos três ou quatro acompanhantes: não percam!
Como já dito/escrito acima, fotos com a Ju, assim que eu liberar o computador para ela. Na sequência, vou escrever a aventura na Bolívia.
Finalizo com mensagens.
A primeira é para o Alexandre: realmente, os Andes nesta região são muito mais desbundantes e emocionantes do que na Patagônia ou na região de Mendoza. Você tem toda razão.
Outro recado. Nery, meu capitão: você tem que vir para cá! Quem sabe depois da Route 66, programamos algo!
Abraço a todos. Agora, vou começar a escrever o outro post. Sobre a Bolívia. Barra pesada, mas maravilhoso. Dica para quem quiser se arriscar. Como nós.
Abreijos. Toni.

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