sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

MIL KM EM CIMA DE UMA MOTO - postado por Toni




MIL KM EM CIMA DE UMA MOTO
Pois é. Sou um verdadeiro CDF. Também ganhei o selo de nosso blog que ainda náo foi feito (e que será em breve - espero...) e que atesta que o feliz proprietário rodou mil km ou mais, de moto, em vinte e quatro horas (ou menos...). Rodamos ontem, 13 de janeiro de 2010, "exatos" mais ou menos 1029 km. Quando saímos de El Calafate, alguns minutinhos antes das oito da manhá, náo imaginava que iríamos rodar os mil km. Isso porque depois de muita ponderaçáo, optamos por pegar a Ruta 9, uma estrada de rípio que nos levaria de pertinho de El Calafate até Piedra Buena, com uma economia de quase trezentos km, caso fossemos pelo asfalto. Pois foi rodar seis km na estrada - que muitos em El Calafate disseram que estava boa - para resolvermos voltar. Gastamos meia hora com isso, andando com as motos - pesadas - em primeira e segunda. Só sambamos. Rípio solto, com os trilhos meio escondidos. Pedras grandes e buracos ("poços" para os argentinos). Náo ia dar. Aí resolvemos fazer os quase trezentos km a mais naquele asfalto argentino de primeira, porque se fossemos pelo rípio, gastaríamos mais ou menos oito horas para rodar duzentos km - isso se náo viessem as quedas. Como tínhamos planejado ir até Comodoro Rivadávia, verifiquei que rodaríamos mais de mil km. Aí, a oportunidade de completar a viagem: ir até Ushuaia e, de quebra, fazer os mil km para pegar o selo - o atestado dos mil km rodados - que prometi que náo pegaria se náo cobrisse a distância. Bom, foi tudo bem na viagem, que transcorreu rápida. Deu até sono e aí tomei um Red Bull para ficar mais animado. O vento estava presente, mas náo era forte. Muito mais suave do que na vinda. Paramos para comer num local que já tínhamos parado quando descemos pra Ushuaia. Depois, tocamos eté Piedra Buena. Quando chegamos e paramos para o necessário reabastecimento, a primeira zebra da tarde: havia um "paro" (greve) dos caminhoneiros entregadores de combustível, pelo que ficamos cerca de duas horas esperando para abastecer as motos. Diga-se que a gasolina chegou em um tanquinho puxado por uma Land-Rover. Depois, as bombas náo conseguiam puxar o combustível e aí um dos frentistas, ao tentar consertá-las, acabou por tomar um jorro de gasolina na cara. Ninguém do posto o ajudou. Eu acabei por ir atrás dele e o ajudei a lavar o rosto e principalmente os olhos. No Brasil, dava uma indenizaçáo por dano moral... Depois dos incidentes, as motos finalmente foram abastecidas. Saímos novamente e cento e tantos km depois, paramos em outro posto, em San Julian. Lá tinha combustível (só a Fangio - 98 octanas por cerca de um real e cinquenta centavos. Metade do preço da Pódium no Brasil. É mole?). Reabastecemos, tomei mais um Red Bull e saímos - eu ligado no 220. Aí, por volta de 15 pras oito da tarde, com seiscentos e setenta km rodados, ele deu as caras de novo. Ele, o vento. O vento patagônico que quando vem com tudo parece o Hilander: quer arrancar o capacete e a sua cabeça juntos... Ele veio com tudo, mas eu me entendi bem com ele. Deitei a moto direitinho, inclinando o guidáo, como se fosse fazer a curva para o lado do vento, e com o corpo nem fazia esforço. Parecia que estava apoiado em um colcháo de ar (e estava mesmo!). Senti o vento totalmente dominado e, eufórico por conta dos Red Bulls, até gritei algo como "segura peáo!!!" Moral alta e os km foram passando. Quase trezentos km de vento até Caleta Olívia, onde entramos por volta de dez e meia, aí já escuro, mas ainda com luz no horizonte. E a última parte do trecho, onde a estrada beira o mar, foi super tranquila, até mesmo sem vento forte. Tudo certo para completar os meus mil km! Por conta disso me animei: "vou até Comodoro! Só mais oitenta km!" Achei que o Otávio e a Inha ficariam em Caleta Olívia mesmo. Quando fui combinar com o Otávio um esquema para a gente se encontrar no dia seguinte (hoje), ele nem discutiu. Disse que ia. Gente, eu realmente achei que ia ser um passeio! E foi! Mas um passeio regado a muito vento! Só brindamos - com umas Quilmes - hoje, em Esquel. Se do outro lado, na parte da estrada na beira do mar só havia pouco mais do que uma brisa, entre Caleta Olivia e Comodoro o vento estava enlouquecido! Parecia que queria jogar as motos para cima, como se fossem avióes de papel! Era vento pra todo lado! Náo tinha lógica, como o da tarde que era forte, mas vinha sempre da mesma direçáo. E quando cruzávamos com outros veículos - principalmente pesados, como caminhóes - dava um revertério de vento! Primeiro uma explosáo, depois um vácuo e aí as motos sambavam de um lado para outro. Ufa! Mas, é claro, deu tudo certo! Depois de muitas "chicotadas", chegamos a Comodoro. Por volta de meia-noite. Dezesseis horas de estrada e mais de mil km rodados. E no meio da estrada, quando a marca foi atingida, a Ju fotografou o painel da moto. Vejam a foto do odômetro parcial marcando o 999,9 - meio cortado, por causa do movimento da moto. Esta a prova dos meus mil km. Também tem prova testemunhal - o Otávio e a Inha que também fizeram os mil, junto comigo e com a Ju. E o Otávio teve a ousadia de dizer que na Argentina os mil km náo valiam! Com todo aquele vento, só valem! Aos meus companheiros de jornada - o Otávio, a Inha e a minha Ju - um grande beijo e os meus públicos agradecimentos. Foi muito bom rodar os mil km com vocês! Realmente valeu! P.S. O cóccix doeu! E está doendo ainda hoje! Outro P.S. Ricardo, estou à disposiçáo, mas pergunto: que dica eu vou dar pra você que já foi para Ushuaia e rodou a Argentina de todo o jeito?! Você é que nos deu uma dica preciosa, ao indicar como melhor opçáo para Ushuaia a estrada secundária de rípio - a que vai para para Onaishin (acho que é esse o nome), ao invés da principal. A secundária realmente está muito melhor. Náo tem muito movimento e o rípio está bem batido. Dá para fazer uma média bem razoável. Mesmo com vento, na volta, cobrimos os cento e vinte km em menos de duas horas. Mais um P.S. Alexandre: estou totalmente dentro dessa proposta a respeito do Alaska!!! E fico muito honrado com ela!

Um comentário:

  1. Antonio
    Que aventura !!!!
    O vento da Patagônia é algo que só quem ja pegou sabe dizer o que é tomar uma "surra de vento" ....
    Voces foram sábios em não seguir pela Ruta 40 no rípio, pois seria um tombo atrás do outro. Eu passei por lá no ano passado, estávamos em 4 motos e foram ao todo 6 tombos. "Rufas" de 120Km/h e rípio não é uma boa combinação.
    Hoje voces ja devem estar por volta de Barriloche. Então não deixem de passar pela estrada dos sete lagos, vai de Villa La Angostura até San Martin de Los Andes, é maravilhoso.
    Então "Suerte" a todos
    Ricardo Atacama
    PS:

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